Há um roteiro da história no livro de Juízes, que se forma a partir das palavras mais frequentes do texto.
Analisando o texto hebraico do Livro de Juízes com base em concordâncias e estudos lexicais, e excluindo partículas gramaticais (como "e", "o/a", "para"), podemos identificar as dez palavras substantivas mais frequentes e teologicamente significativas.
A ordem abaixo considera as palavras mais frequentes em ordem de aparecimento e uma combinação de frequência, com peso teológico-narrativo:
1. יִשְׂרָאֵל (Yisra'el – Israel) – O ator coletivo central é a nação de Israel. Toda a trama gira em torno do relacionamento da nação com Yahweh, seu ciclo de apostasia, clamor e libertação. Sua repetição constante enfatiza a identidade em crise do povo da aliança.
2. יְהוָה (Yahweh ) – O protagonista divino é Deus. Sua ação (levantando juízes, entregando Israel aos inimigos, ouvindo o clamor) é o motor da história. A frequência do Nome reforça que Juízes é, antes de tudo, uma narrativa sobre o caráter e a soberania de Deus, mesmo na desordem humana.
3. בֵּית (Bayit – Casa/Casa paterna/Tribo) – Refere-se frequentemente a unidades familiares, clãs ou tribos. Sua alta ocorrência sinaliza a desintegração da unidade naciona. No final do livro, as ações são tomadas por "casas" ou tribos isoladas (ex: Benjamim, Judá), não por "Israel" coeso.
4. אִישׁ (Ish – Homem/Homem valente/Líder) – Termo crucial para descrever os juízes e figuras centrais (Otoniel, Eúde, Baraque, Gideão, etc.). Também usado para inimigos e para o "homem" comum. Destaca a importância de liderança (ou sua falta) e o caráter personalista dos ciclos.
5. עִיר (Ir – Cidade) – Reflete o cenário da conquista da terra, e mais tarde da incompleta missão de tomar as cidades. Cidades como Jerusalém, Hazor, Siquém, Gibeá e Betel são palco dos eventos. A luta é frequentemente pelo controle de cidades, simbolizando a disputa pela terra.
6. אֱלֹהִים (Elohim – Deus/Divindade) – Usado às vezes como sinônimo de Yahweh, mas também para deuses estrangeiros ("outros deuses", "deuses da Síria"). Sua presença pontua o conflito espiritual central: a idolatria como raiz da apostasia de Israel.
7. מֶלֶךְ (Melech – Rei) – Palavra-chave teológica nessa história. Aparece principalmente em referência a reis inimigos (de Canaã, Moabe, Midiã) que oprimem Israel. Na segunda parte do livro (17:6; 18:1; 19:1; 21:25), a ausência de um rei em Israel é o diagnóstico do caos. Antecipa, por contraste, a necessidade de uma monarquia fiel a Yahweh.
8. אָב (Av – Pai/Ancestral) – Usado literalmente e no sentido de "chefe de família". Reforça a estrutura social patriarcal e a importância das linhagens. A crise no final do livro (como em Juízes 19) é, em parte, uma crise da autoridade paterna e da proteção familiar.
9. בַּת (Bat – Filha) – Surge com frequência perturbadora nas narrativas de violência sexual e guerra civil (filhas de Siló, a concubina em Gibeá). Evidencia a vulnerabilidade dos mais fracos na sociedade em colapso e a brutalização das relações.
10. עַם (Am – Povo) – Muitas vezes em paralelo com "Israel", mas com um tom mais orgânico e comunitário. A palavra traça a jornada do "povo" de Yahweh da unidade para a fragmentação, onde "o povo" age por vingança ou acordo tribal, não como uma nação unida.
O Roteiro Teológico que surge a partir desta Lista de palavras mais frequente nos colta algo. A frequência dessas palavras pinta um retrato claro:
Juízes é a história de "Israel" (1) o "povo" (10) de "Yahweh" (2), organizado em "casas" (3) e liderado por "homens" (4) em um cenário de "cidades" (5). O conflito central é entre "Deus" (6) e os "reis" (7) estrangeiros, enquanto a estrutura social desmorona a partir da unidade básica do "pai" (8) e da violação das "filhas" (9).
O livro mostra, assim, a decomposição sistemática de todas as esferas (religiosa, política, social, familiar) quando a nação abandona sua lealdade suprema a Yahweh. A palavra "rei" ecoa como a grande questão em aberto: qual tipo de rei pode restaurar a ordem? A resposta não está em Juízes, mas a pergunta é seu legado crucial.
Com base nessas análises lexicais de concordâncias do texto
hebraico massorético, segue a contagem aproximada das
ocorrências das formas substantivas dessas palavras no Livro de Juízes:
É o substantivo
mais repetido, refletindo o foco na trajetória nacional.
Inclui ocorrências
em combinações como "o Anjo de YHWH" e "perante YHWH".
Usado para família, linhagem, templo (ex: "casa de Deus") e estruturas físicas.
4. אִישׁ (Ish – Homem/Homem
valente/Líder) – c. 150 vezes
Alta frequência
devido à narrativa centrada em figuras específicas e ao uso genérico
("cada homem").
Presente nas
descrições de conquistas, batalhas e cenários dos episódios finais.
Inclui referências
a Yahweh (ex: "Deus de Israel") e a deuses estrangeiros.
Predominantemente
sobre reis inimigos (ex: rei de Moabe, Hazor), mas também na frase-chave
"não havia rei em Israel".
Usado tanto
literalmente ("seu pai") quanto para antepassados ("pais de
Israel").
Concentrada nos capítulos finais (19-21), mas também em episódios como a filha de Jefté.
10. עַם
(Am – Povo) – c. 110 vezes
Frequentemente em paralelo com "Israel", mas com nuance de "coletividade" ou "grupo tribal".
Observações sobre a Contagem:
- Contexto teológico: A frequência absoluta não capta
totalmente o peso teológico. Por exemplo, "מֶלֶךְ"
(rei) aparece menos que "עִיר"
(cidade), mas sua presença nos versículos-chave de abertura e encerramento
(1:1; 21:25) lhe confere um significado estrutural importante.
- Distribuição desigual: Palavras como "בַּת" (filha) têm
ocorrências concentradas em poucos capítulos, mas sua carga dramática é imensa,
simbolizando a violação da aliança no nível mais íntimo (família).
- Interação entre termos: A narrativa é tecida pela
repetição de pares como "Israel" e "Yahweh" (relação de
aliança), "casa" e "pai" (estrutura social), e "homem"
e "povo" (liderança versus comunidade).
Vale a pena estudar a Palavra de Deus, com tempo e dedicação.

Muito Boa analogia
ResponderExcluirGostei
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