sexta-feira, 14 de novembro de 2025

A HISTÓRIA DA CONQUISTA DE JEBUS


Jebus era a capital dos jebuseus, um dos povos da antiga Canaã, que Israel tinha o encargo de expulsar dali e se apossar das suas cidades.

A tentativa de tomada da cidade de Jebus foi feita várias vezes desde o tempo de Josué até, definitivamente o tempo de Davi (400 anos).

A aparente divergência entre Juízes 1:8 e 2 Samuel 5:6–10, são dois relatos da conquista dessa cidade. Essa é uma das questões mais frequentes quando se estuda a história da antiga Jebus e a atual Jerusalém. 

À primeira vista, parece que os textos se contradizem: em Juízes, a cidade é tomada por Judá; no livro de Samuel, ela é conquistada novamente por Davi como se nunca tivesse sido capturada antes. 

Mas quando analisamos a geografia da cidade e a natureza de cada conquista, percebemos que os dois relatos descrevem eventos distintos, que se harmonizam perfeitamente.

O ponto decisivo está em compreender que Jerusalém, naquela época, era dividida em duas regiões bem diferentes: a cidade baixa, mais exposta e vulnerável, e a cidade alta, conhecida como Sião ou a fortaleza jebusita, que funcionava como um reduto militar praticamente inexpugnável. Essa diferença geográfica determina o porquê de um relato mencionar uma tomada e outro falar de uma conquista completa.

Em Juízes 1:8, lemos que os homens de Judá “combateram contra Jerusalém e a tomaram” e até a incendiaram. Essa tomada refere-se à cidade baixa, um ataque militar contra a parte exterior da cidade. O texto não afirma que a fortaleza jebusita tenha sido dominada — e isso se confirma pelo próprio livro de Juízes, que mais adiante afirma que os benjaminitas não conseguiram expulsar os jebuseus de Jerusalém (Jz 1:21). 

A evidência é clara: os jebuseus continuaram vivendo ali, o que só seria possível se eles ainda controlassem a cidadela fortificada. Assim, a conquista relatada em Juízes foi real, mas não definitiva; Judá destruiu a parte externa, mas não ocupou a cidade, e os jebuseus retomaram o controle logo em seguida.

Quando chegamos a 2 Samuel 5:6–10, o cenário muda completamente. Davi não está atacando a cidade baixa, mas mirando diretamente o coração da cidade: a fortaleza de Sião. Os jebuseus, confiantes em sua posição vantajosa, chegam a zombar de Davi, dizendo que até cegos e coxos poderiam defendê-la. Essa confiança demonstra o que arqueologia e geografia confirmam: a fortaleza jebusita era extremamente difícil de tomar. 

Mas Davi executa uma manobra estratégica e finalmente conquista toda a cidade, incluindo a cidadela, estabelecendo ali a famosa Cidade de Davi. É somente aqui que Jerusalém passa a ser, de fato, parte permanente do território israelita e futura capital do reino.

Os dois relatos, portanto, não se anulam. Eles falam de conquistas diferentes, em momentos diferentes e com profundidades diferentes. Em Juízes, houve uma vitória militar parcial, voltada à área mais vulnerável da cidade. Em Samuel, finalmente ocorre a tomada completa, definitiva e politicamente transformadora da fortaleza de Sião.

Com essa distinção, Juízes 1:8 e 2 Samuel 5 deixam de ser textos conflitantes e passam a ser partes complementares da história da cidade que se tornaria o centro espiritual e político de Israel. 


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